Festa da Damurida reúne indígenas e celebra cultura com 'muita pimenta' em Roraima
Festa da Damurida mantém tradições e celebra cultura indígena em Roraima Indígenas de ao menos 10 comunidades participaram da 19ª edição da Festa da Dam...
Festa da Damurida mantém tradições e celebra cultura indígena em Roraima Indígenas de ao menos 10 comunidades participaram da 19ª edição da Festa da Damurida na Terra Indígena Malacacheta, no Cantá, Norte de Roraima. O encontro reuniu dança, canto, pintura corporal, concursos e, claro, muita pimenta — ingrediente fundamental do prato que dá nome à festa e presente em praticamente todos os momentos do evento. O evento aconteceu entre sexta-feira (14) e domingo (16). Os participantes também beberam caxiri (uma bebida indígena fermentada de teor alcoólico) e outros pratos típicos. Após as competições, houve uma exposição onde o público pode desfrutar de outros pratos típicos. 🥘 A damurida, caldo forte e muito apimentado preparado geralmente com peixe, é considerada um alimento sagrado para o povo Macuxi, Wapichana e Taurepang. Passada de geração em geração, a receita carrega ancestralidade, resistência cultural e hoje é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial de Boa Vista. LEIA TAMBÉM: Damurida: prato típico indígena à base de tucupi e pimenta atravessa gerações e mantém viva cultura ancestral em Roraima Damurida produzida e exposta no Festival da Damurida, na comunidade Malacacheta Lucas Wilame/Rede Amazônica 🍲 Preparo da estrela do evento O preparo da damurida também chamou a atenção de quem acompanhou o evento. Merendeira da comunidade, Melissa Peres contou que aprendeu a cozinhar o prato ainda criança, observando a avó. “O segredo é um bom tucupi e bastante pimenta: canaimé, olho de peixe, murupi… fica bem ardido”, disse, rindo. Segundo ela, o caldo sempre foi considerado “café da manhã” para quem ia trabalhar pesado e precisava de força. O agricultor Marinaldo Pereira concorda. Para ele, o prato é tão forte que é capaz de "mandar embora" energias ruins. “Pelo que eu sinto quando eu tomo, é bom pra espantar tudo de ruim”, disse. 🌶️ Pimenta no prato, na cultura e até nos trajes Rainha da Damurida 2025, Carol Lourenço Cadete Divulgação/Festival da Damurida A presença do ingrediente começou na culinária, mas se espalhou por todo o espaço da festa. As candidatas aos títulos de princesa e rainha usaram adereços produzidos com pimentas, destacando o símbolo que marca a identidade do povo Macuxi. “A damurida é muito usada, por isso eu trouxe ela no meu corpo todo”, disse Carol Lourenço Cadete, eleita Rainha da Damurida 2025. Já a princesa Silvane Ivane celebrou a participação. “Tô me sentindo muito feliz, é muito incrível”, disse. Pintura corporal no Festival da Damurida, 2025 Luiz de Matos/Rede Amazônica Além dos trajes, pinturas corporais feitas com tinta de jenipapo marcaram presença entre jovens e adultos. Para Anita Ferreira, 19 anos, as pinturas representam força. “As pinturas corporais significam para mim a força da centralidade. É uma força que a gente carrega através das pinturas. Quando eu me pinto, eu me recarrego”, contou. 🏹 Cultura passada de geração em geração Evento aconteceu na comunidade indígena da Malacacheta Lucas Wilame/Rede Amazônica O tuxaua da Malacacheta, José Ailton de Sousa Cruz, reforçou a importância do evento para manter viva a tradição do povo. “Estamos fortalecendo cada dia mais nossa cultura e nossa língua. A damurida é alimento, é tradição e também uma medicina que espanta os espíritos maus e abençoa a comunidade”, afirmou. Durante o evento, crianças e jovens apresentaram a parixara, dança tradicional ensinada pelos mais velhos. “Não podemos deixar nossos ancestrais para trás. A gente fica muito feliz de ver tudo isso vivo”, disse Lisonete Souza, coordenadora do grupo de dança. Indígenas dançam parixara no Festival da Damurida 2025 Lucas Wilame/Rede Amazônica A Festa da Damurida é vista pelos moradores como um encontro de reafirmação cultural, onde os mais jovens aprendem com os anciãos e ajudam a manter viva a história do povo. O sabor apimentado, que atravessa gerações, segue como símbolo central da celebração. Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.